ROSILDO BARCELLOS*
O Título de Doutor é a distinção máxima prevista normalmente nos estatutos. A instituição dos doutoramentos “honoris causa” foi concebida, com o intuito de distinguir personalidades excelsas e eminentes, que, pelo vulto da obra realizada, enriquecem a vida cultural e social. É uma forma de homenagem por meio da qual se exprime gratidão a alguém e se procede ao reconhecimento público pelo seu valioso contributo no exercício de sua lide, no serviço prestado à comunidade ou na defesa de causas nobres. E Maria da Glória Sá Rosa, que fez parte da academia sul-mato-grossense de letras, onde ocupou a cadeira número 19… tem dois merecidos títulos “Honoris Causa”.
E é dela que ouso escrever hoje! Professora considerada ícone da educação e da cultura no Estado. Sua trajetória está diretamente ligada com a história do Mato Grosso do Sul,, tendo participado da fundação e instalação dos primeiros cursos superiores. Foi coordenadora do Curso de Letras, e promoveu diversos cursos e semanas literárias e colaborou com a realização dos principais festivais de música (prata da casa) e de teatro, da capital, neste século..
Eu, seu eterno aprendiz continuo tentando entender os motivos que fazem a literatura ser a tela móvel na qual autor e leitor constituem misterioso binômio, disposto a resgatar o patrimônio cultural das gerações. Dores, sonhos, surpreendentes alegrias misturam-se a angústias, que só talentos privilegiados são capazes de relatar em toda a sua extensão. Meu remanente,relico e sobejo encontro com ela foi na Unigran, na 2ª Exposição de Artes Visuais em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, Onde recebia mais uma justa homenagem. Natural de Mombaça (CE), Glorinha (E isto é o que me encanta) – Ser tanto, e atender a todos com benfazeja atenção quando a chamavam carinhosamente pelo seu diminutivo), lecionou literatura e história da arte, na UFMS. Era fluente em espanhol e francês e, inclusive, ajudou a fundar a Aliança Francesa em Campo Grande. Promoveu festivais de música e incentivou todas as artes, em Mato Grosso do sul, com a criação do Teatro Universitário Campo-grandense (TUC) e o Cine Clube de Campo Grande.
Na política assumiu o cargo de presidente do Conselho Estadual de Cultura; superintendente da Secretaria de Cultura e Esportes; e, ainda, presidente da Fundação de Cultura. Eu, desculpem aos que me acompanham como articulista do Jornal da Cidade, voltarei a tropeçar nas letras, primeiro … pela dor maior da ausência que “Glorinha’ nos deixou aos 88 anos, “sem domesticar minhas lembranças” e segundo pela emoção de escrever sobre a verdadeira pessoa que pode se utilizar da palavra “Mestre”. Je terminerai en vous disant merci beaucoup. Como aprendiz, pretendo também continuar a escrever até meu último dia de vida, assim como ela fez e por isso trago as suas derradeiras linhas, oriundas de seu indefectível e sobejador artigo publicado “em vida”, no dia 26 de julho de 2016, (ela faleceu dia 28) quando preconizava: Afinal, tudo passa, e cabe a nós, envolvidos nas teias do medo do desespero, do horror do dia de amanhã, levantar os olhos para o alto e dizer, como o poeta, que depois da noite vem o dia. Compete-nos armar-mo-nos de coragem e dizer com toda a força dos pulmões: “Clara manhã, obrigado. O essencial é viver”
*Articulista