Que fique bem claro que não há aqui uma crítica à instalação do Hospital de Campanha e nem às medidas adotadas para inibir as aglomerações, uma das alternativas para diminuir a transmissão do Coronavirus. Entretanto algumas questões ficam com as respostas pairando no “OneDrive” da vida e gerando mais pontos de interrogação. Formou-se uma queda de braço no ano passado entre os que defendiam a ciência e os que defendiam a economia. Vencido por prefeitos, vereadores e STF, o Governo Federal fez (embora de forma meia boca em alguns pontos) o que lhe restou – repassar verbas para governadores e prefeitos combaterem a pandemia. Até aí tudo bem, cada um devia fazer sua parte.
Foi um corre-corre, a favor do tratamento precoce, contra o tratamento precoce, fica em casa, vai trabalhar, tira ônibus, coloca ônibus, fecha cidade, abre cidade, monta hospital de campanha, corre atrás da vacina e… De repente tudo parece voltar ao normal, vai trabalhar, abre a cidade, desmonta os hospitais de campanha.
Quem é que falou para esses homens da ciência, ou para os homens da economia, que tudo tinha passado? Quem avisou que os leitos e UTI a mais, que as tendas e hospitais de campanha não seriam mais necessários? Tinham bola de cristal, quando a pandemia apenas estacionara em patamares numéricos, e não entrado em curva descendente considerável? Isso aconteceu no Brasil inteiro, em estados ricos e estados pobres, em grandes cidades e cidades pequenas, sem nenhum alerta de nova onda da pandemia. Onde estavam os gurus da ciência e da economia. Ou a ideia era apenas “deixa como está para ver como é que fica”?. Se o bicho pegar pedimos mais ajuda para montar novamente os hospitais de campanha, adquirir leitos de UTI, faremos nosso papel de bonzinho outra vez. Sem acusar este ou aquele – todos tentaram acertar, muitos acertaram em alguns momentos, mas todos erraram em outros momentos – mas é o povo que está pagando, sem emprego, sem renda, sem hospital, sem vacina, sem perspectiva e sem liberdade.
Monta hospital, desmonta hospital em Miranda quando se tem uma estrutura hospitalar entregue às moscas, o antigo Hospital Pedro Pedrossian. Ora não se pode fazer nada, é uma propriedade particular. Mas será que em momento tão delicado não se pode mesmo fazer nada? A única coisa que pode é adotar medidas que vão diretamente contra o povo?
A propriedade é um direito do cidadão. Okay. E o ir e vir não é um direito constitucional do cidadão? Não se critica aqui os toques de recolher da vida, mas se um direito constitucional pode ser revisto em momento de pandemia, o de propriedade não pode? O interesse particular se sobrepõe ao interesse público, mesmo em situação de pandemia?