Enquanto o Brasil enfrenta uma das maiores crises administrativas das últimas décadas, com cortes em serviços essenciais e sobrecarga na máquina pública, o Senado aprovou nesta quarta-feira (25) um projeto que vai aumentar o número de deputados federais de 513 para 531. A proposta, que ainda voltará para análise da Câmara dos Deputados, é mais uma demonstração de como a classe política parece viver em uma realidade paralela à da população.
Com 41 votos a favor e 33 contrários, os senadores decidiram, em pleno 2025, que o Brasil precisa de mais 18 deputados federais. Isso mesmo: mais parlamentares, mais estruturas, mais verbas, mais assessores, mais mordomias – ainda que o texto insista em dizer que “não haverá aumento de despesas” entre 2027 e 2030. Mas será que alguém acredita?
O relator do projeto, senador Marcelo Castro (MDB-PI), afirmou com todas as letras que não haverá impacto orçamentário: “Não haverá impacto orçamentário de nenhum centavo”. No entanto, senadores da oposição rebateram duramente, alertando que o custo pode ultrapassar R$ 150 milhões por ano com salários, estruturas de gabinete, cotas parlamentares, passagens aéreas, auxílio-moradia, apartamentos funcionais e, claro, emendas parlamentares – a cereja do bolo político brasileiro.
Como bem disse o senador Eduardo Girão (Novo-CE): “Se teve aumento de emendas sem os 18 deputados, imagine com os 18 deputados. Será que os deputados vão abrir mão das suas emendas para acomodar os 18 que vão entrar? É claro que não.”
A alegação técnica usada para justificar o aumento é uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que determinou a atualização da proporcionalidade de deputados por estado. A Constituição exige que essa distribuição seja revista a cada Censo para garantir representação justa das unidades federativas. Mas o que se viu foi uma manobra política para evitar que estados perdessem cadeiras — como Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul — e, no lugar, aumentar o total de vagas para acomodar os demais. Ou seja, ninguém perde; todos ganham… menos o povo.
Quem vai ganhar mais cadeiras?
Pará e Santa Catarina: +4 cada
Amazonas, Mato Grosso e Rio Grande do Norte: +2 cada
Ceará, Goiás, Minas Gerais e Paraná: +1 cada
Naturalmente, com mais deputados federais, o efeito cascata já bate à porta: Assembleias Legislativas estaduais também deverão crescer, pois a Constituição determina que o número de deputados estaduais é proporcional ao de federais. Mais um empurrão no custo do Legislativo, justamente quando se fala em “ajuste fiscal”, “corte de gastos” e “reformas”.
Mais representantes, mais gastos, menos
compromisso
É absolutamente contraditório que, em um país onde os recursos para saúde, educação, segurança e programas sociais são constantemente disputados e reduzidos, os próprios parlamentares escolham ampliar a própria estrutura de poder. Num momento em que se espera exemplo e sacrifício do topo, o que se vê é mais uma vez o velho Brasil — políticos decidindo por mais espaço, mais poder e mais verbas, enquanto o cidadão comum paga a conta. Se não é com dinheiro novo, será com reorganização de um orçamento que já é insuficiente para atender às reais demandas da população. Basta perguntar a qualquer brasileiro: você se sente representado pelos 513 deputados atuais? A resposta mais provável será um sonoro “não”. E, com mais 18, será diferente?
A classe política, mais uma vez, mostra que sabe legislar muito bem — em causa própria. (Com informações da Agência Senado)









